Aparecimento da mídia exterior esta ligada ao modelo de desenvolvimento de cada cidade
Em dissertação a ser apresentada esta semana através do Programa de Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (USP), o pesquisador Sérgio Rizo lança o olhar para as diferentes formas de apresentação da mídia exterior em duas cidades que têm como característica primordial a centralização do potencial econômico de seus países – Brasil e Argentina. Desta observação surgem ligações entre o modelo de crescimento adotado em cada metrópole e os tipos de mídia exterior. Em São Paulo, os tipos de painéis vão se adaptando ao desenho urbano da cidade que passou por repetidos momentos de renovação urbana, em que se coloca “tudo abaixo” para sobreposição de “novos” elementos. Assim, a partir da década de 70, empresários paulistanos estabelecem padrões como o brasileiríssimo “outdoor”. Já na capital portenha, a preservação arquitetônica de prédios históricos coincide com a manutenção de antigas formas de publicidade que convivem até hoje com os mais modernos painéis luminosos e eletrônicos, criando no ambiente urbano uma colcha de retalhos de formas e estilos.
A partir do levantamento sistemático de matérias do jornal Folha de São Paulo e dos argentinos Clarín e La Nación, Rizo analisa problemas recorrentes ao tema da mídia exterior no cotidiano das duas cidades. Através da interpretação dos discursos apresentados nas publicações, o pesquisador organiza uma sequencia de eventos que demonstram possíveis jogos de interesse que justificam a existência ou não da mídia exterior nestas cidades.
Se hoje a mídia exterior relaciona-se muitas vezes com à ideia de poluição, em São Paulo ela já foi vista como sinônimo de modernidade e prosperidade. Em Buenos Aires, mesmo com a grande quantidade de publicidade, alguns atores locais alimentam o sonho iluminado de reproduzir a “Times Square” em terras Sul-americanas. Ainda no campo dos imaginários, há de se supor que a escolha do termo “Cidade Limpa” é bem estratégico, quem sabe uma modernização do jargão “varre, varre vassourinha” de Jânio Quadros. Quando se pensa em uma metrópole com a magnitude de São Paulo, indaga-se: qual cidadão iria ser contra uma “Cidade Limpa”? Simbologias à parte, este projeto transformou São Paulo na única metrópole do mundo sem mídia exterior.Essa excepcionalidade promove o desenvolvimento de um grande processo de licitação ao qual supõe-se que a municipalidade possa obter a maior receita já paga no mundo para fornecimento e gestão de mobiliário urbano.
O trabalho apresenta ainda o mapeamento e inventário fotográfico dos painéis publicitários mais representativos das avenidas Nove de Julho, em Buenos Aires, e Paulista, em São Paulo. Na capital paulista Rizo encontra novas formas de mídia exterior como alternativas às tipologias proibidas. Sejam marcas “patrocinadoras” em guaritas policiais e faixas de eventos, ou cartazes em bancas de jornal. “A pesquisa indica que empresas multinacionais do segmento de mobiliário urbano podem ter influenciado decisivamente para a eliminação da mídia exterior convencional de São Paulo, visando criar uma situação excepcional onde estes equipamentos se tornam o único meio de mídia no ambiente público”, explica.
Sobre o pesquisador: www.sergiorizo.com.br
Geógrafo formado pela USP e autor do livro “A mídia Exterior na Cidade de São Paulo”, editora Necrópolis (2009). Para ele, o principal ponto desta nova pesquisa é que “ao comparar a mídia existente em situações distintas percebemos que sua mera existência, fruto de impasses entre empresários e o poder público, não deixa de ser uma expressão da sociedade, servindo assim como objeto de interpretação do modo de vida de determinada população”.
Serviço
O que:
Defesa da dissertação “Estudo comparativo da mídia exterior em São Paulo e Buenos Aires” de Sérgio Ávila Rizo. Orientado por Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch – Escola de Comunicações e Artes – ECA/PROLAM/USP
Quando: 18 de maio, às 10h
Local: PROLAM/USP – Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia – Favo 1
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